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Divagações sobre Psicoterapia

 

Sempre achei difícil explicar para meus clientes/pacientes o que é uma psicoterapia devido às tantas diferenças do processo entre um paciente e outro. Tecnicamente, a psicoterapia é uma forma de tratamento baseada na ciência da Psicologia que tem o intuito de promover mudanças de comportamento (englobam-se aí os observáveis e os não observáveis, também chamados privados, internos ou mentais) com a finalidade de resgatar o equilíbrio psicossocial do indivíduo. 

Isso vai além de conselhos. Já ouvi muitas pessoas dizendo que não fariam psicoterapia porque seguem uma determinada religião, têm amigos, não acreditam nisso, etc. Muitas vezes elas imaginam a psicoterapia assim: você vai ao psicólogo, fala, fala e fala, e no fim o terapeuta dá um conselho do tipo “faça isso e aquilo” e pronto. Você segue o conhecimento do poderoso-psicólogo-sabe-tudo e vai dar tudo certo. Ah, quem dera soubéssemos tudo. Quem dera existisse um livro do tipo “leia, obedeça e seja feliz” que nós psicólogos lêssemos e aplicássemos no dia-a-dia no consultório. 

A psicoterapia, como todo processo científico, parte de uma análise. Independente da linha teórica que um psicólogo segue, a análise é o que há de mais fundamental. É montar aquele quebra-cabeça que o paciente trouxe. Por que ele sofre assim? Por que continua se comportando daquele jeito? Por que religião, amigos, namorado (a), dinheiro, drogas ilícitas, lícitas ou álcool não aliviam o que ele sente? O que mantém esse padrão? Enfim, muitos segredos que o psicólogo ajuda ao paciente a falar. Segredos que muitas vezes ele nem sequer tinha noção que existiam.

Ok, analisamos. E agora?

Agora começa a psicoterapia. O que o terapeuta vai fazer com essas informações? Independente de sua linha teórica, ele deve intervir. Usa de técnicas das mais variadas para ajudar aquele cliente/paciente, o indivíduo que simplesmente não sabe o que acontece com ele mesmo. A psicoterapia desenvolve agora até a sua conclusão com a alta, sendo essa determinada pelo terapeuta ou pelo próprio paciente. Em terapia cognitivo-comportamental, fala-se muito em “tornar o paciente seu próprio terapeuta”. Isso quer dizer que a ideia é evitar a dependência do paciente com o terapeuta e o aprendizado de técnicas e estratégias que ele possa usar nos momentos difíceis.

O bom da psicoterapia é que ela não tem contraindicações. Na pior das hipóteses ela simplesmente não funciona. De qualquer forma, mesmo que o psicólogo seja muito despreparado e que nunca leu um livro de Psicologia na vida, o fato do paciente poder falar sobre suas dores, fraquezas e segredos sem o medo de ser punido, julgado e ridicularizado já é terapêutico. 

Em termos psicopatológicos, a psicoterapia é indicada para qualquer tipo de transtorno mental, seja como tratamento principal (com ou sem tratamento medicamentoso) ou paralelo ao psiquiátrico (medicamentoso, principalmente). Não se limita, porém, a esse tipo de tratamento. Clientes/pacientes também se beneficiam do acompanhamento psicológico em situações em que não haja transtornos. É comum resistência à psicoterapia com o argumento “não sou louco”. Nesses casos eu pergunto aos clientes/pacientes se uma pessoa que sente medo de falar em público, um tímido, alguém que não consegue dizer ‘não’ aos outros, que tem dificuldades em escolher uma profissão, dificuldades com leitura e escrita, etc., são “loucos”. Eles dizem logo que não, obviamente.

Enfim, há também a necessidade de nós psicólogos desmistificarmos a psicoterapia. Muitos pensam que somos “médicos de loucos”, “leitores de mente”, “manipuladores de cabeça”; pensam que utilizamos técnicas de hipnose mágicas como aquelas que aparecem na televisão (ver Fábio Puentes, p.e.); que conhecemos todos os segredos das profundezas mentais de todos (como se todos fossem iguais); etc. A psicoterapia é ainda um processo nebuloso para os leigos e até outros profissionais de saúde. A responsabilidade disso é nossa, os psicólogos, que precisamos ir aos meios de comunicação para falar e escrever como é o tratamento de fato, sem sensacionalismo e sem psicologismos (invenção de expressões, bordões e fatos psicológicos que não têm fundamentação científica).

Psc. Renato Vidal (CRP 13/4146)

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